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QUIZ CBH

ID CBH 4

por Louise Parkes - FEI

O brasileiro Rodolpho, dono de duas medalhas de prata no Adestramento Paraequestre nos Jogos Equestres Mundiais 2018 nos EUA, agora está totalmente focado nos Jogos Paralímpicos de Tokyo.

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Rodolpho com Don Henrico em ação nos Jogos Equestres Mundiais 2018 em Tryon, EUA; img: Hipismo Brasil

“Algumas pessoas pensam que não podemos mudar. Mas quando somos obrigados a mudar vemos que é possível". A afirmação é de um homem que sabe do que está falando: o brasileiro Rodolpho Riskalla, 35, cavaleiro de Adestramento e Adestramento Paraequestre. Rodolpho, a exemplo de tantos outros atletas, está desapontado com adiamento dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos Tokyo para o verão do ano que vem e com o cancelamento dos eventos equestres devido a pandemia.

Rodolpho sabe levar a vida e o que é ver mundo de cabeça para baixo e suas mudanças de rumo em apenas um instante. Mas também sabe o que é morder os dentes e voltar a pisar nos próprios pés - nesse caso sob próteses - sem perder de vista seus objetivos. Agora seus olhos estão completamente focados em nada menos que uma medalha de ouro nos Jogos Paralímpicos de Toyko em 2021.

Durante essa entrevista, Rodolpho se encontra ao lado de seu trailer (imagino que seja bem equipado) que divide com sua mãe Rosangele e irmã Victoria, perto das cocheiras do Haras de Champcueil, a cerca de 60 km de Paris. Para onde, graças a uma parceria de longa data com a amiga Marina Caplain Saint Andre, se mudou às pressas com seus dois cavalos que estavam no Polo Club da capital. "Na mudança ainda não sabíamos se as Olimpíadas iam acontecer esse ano ou não. Foi um caos", lembra Rodolpho.

O trabalho na Dior

Normalmente, Rodolpho trabalha como gerente de eventos para a casa de moda Christian Dior em Paris e costuma montar às 7 de meia da manhã antes de ir ao escritório. "Mas o Polo Club seria fechado durante o lockdown e, por isso, saímos de lá às pressas", explica o cavaleiro.

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Rodolpho em seu escritório na Dior em Paris; acervo pessoal


Adaptar-se a novas situações é algo que vem de longe para o Rodolpho que se mudou de São Paulo para Europa no final da adolescência. "Passei alguns meses com a Mariette Witthages na Bélgica e, por volta dos 20 anos, montei dois anos com o Norbert van Laak na Alemanha. Depois retornei ao Brasil por cerca de cinco anos antes de decidir voltar à Europa visando ficar próximos dos cavalos, das competições e treinamento acabei trabalhando no Haras de Champcueil com a Marina, que eu já conhecia desde que era mais novo, por dois anos e meio antes de começar a trabalhar na Dior", conta Rodolpho, que desde então está baseado na França.

Rodolpho, que desde a infância monta com sua mãe juíza e treinadora de adestramento, sempre mostrou potencial. Entre outras conquistas foi campeão sul-americano de young riders em Buenos Aires 2004 e teve importantes classificações em CDI3* em São Paulo em 2012. No ano seguinte, na França, obteve importantes resultados no circuito de cavalos novos e vinha trabalhando para subir seu cavalo Divertimento ao nível Big Tour, visando um lugar na equipe nos Jogos Olímpicos Rio 2016. Mas no verão de 2015, devido a uma tragédia, retornou ao Brasil.

De um momento para o outro

“Meu pai adoeceu e morreu, o que aconteceu muito de repente e quando cheguei ao país ele já tinha partido. Tive que me ocupar com as coisas burocráticas e ficar com minha família por um tempo. Mas duas semanas depois adoeci. Era uma meningite bacteriana. "A doença é um pouco como o Coronavirus: algumas pessoas podem contrair a doença e não serem afetadas, mas transmiti-la a outras pessoas. Fiquei doente do nada, me sentia bem de manhã, fui ver um advogado e dei uma aula para um amigo. De tarde, senti como se estivesse com uma gripe, fiquei com febre e na manhã seguinte minha mãe me levou para o hospital. Fiquei muito doente. Me colocaram em coma para que eu pudesse respirar, meu coração e tudo estava prestes a entrar em falência", lembra.

"Fiquei em coma por cerca de três semanas. De alguma forma consegui sobreviver, disseram que provavelmente foi porque estava com boa saúde. Mas minhas mãos e pernas - as extremidades - sofreram muito. Eu tinha seguro médico na Europa, então a Dior ajudou no retorno e minhas amputações foram em Paris", resume Rodolpho.

Em junho de 2015 Rodolpho, almejando o sonho olímpico, ainda havia competido no CDI2* de Campiegne. Em outubro havia perdido as duas partes inferiores das pernas, todos os dedos da mão direta e alguns da esquerda. Depois em novembro, mesmo ainda estava muito fraco, foi transferido para um centro de reabilitação pois precisavam de sua cama de hospital para as vítimas do ataque terrorista de 2015 em Paris.

Perguntei a Rodolpho, como lidou com tudo isso tanto mental como fisicamente?

Sem tempo para pensar

“Na verdade, não tive muito tempo para pensar, o que foi bom. Realmente tive muita sorte de poder contar com minha família e amigos durante todo o tempo", garante Rodolpho, que sem dúvida é uma exceção à regra. Em 2 de janeiro de 2016, menos de cinco meses após adoecer, visitou a cocheira onde estava um de seus cavalos e foi colocado na sela. Na época ainda não tinha próteses.

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Rodolpho: cavaleiro nato em registro com Don Henrico; img reprodução FEI

“Todo final de semana a gente podia deixar o centro reabilitação e foi muito louco subir em um cavalo naquele dia. Mas nesse momento algo mudou em minha mente: de repente percebi que poderia lidar com minha nova condição! Quando você está bem (com todos os membros) pensa que não poderia viver sem eles. Eu era uma dessas pessoas que olhava para um cadeirante e pensava que nunca poderia ser com ele."

Rodolpho havia perdido 30 quilos e era preciso esperar até março de 2016 para cicatrizar a amputação antes de ajustar as próteses. Mas em 1º de maio, Rodolpho já havia competido em duas provas Adestramento Paraequestre com um cavalo emprestado por um amigo. "Meus médicos me deixaram sair da reabilitação dizendo: mas não conte a ninguém do hospital", conta Rodolpho, rindo.

Hoje em dia ele está tão bem adaptado a ponto de ter um jogo de próteses especial para poder correr algumas vezes por semana. E está de volta competindo no Adestramento e Adestramento Paraquestre: nada segura esse homem...

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Rodolpho em momento de carinho com Don Henrico

A transição para o Adestramento Paraequestre

Tendo competido até o nível Grand Prix, de início, a transição para o Adestramento Paraequestre foi um pouco desconcertante. No Adestramento Paraequestre há cinco graus de competição (menor ao maior grau de comprometimento físico) e Rodolpho compete no grau IV. “Têm muitas transições e voltas curtas e os juízes estão de olho em cada detalhe! Quando você executa uma reprise St George ou Grand Prix tem um movimento após o outro. Já no Paraquestre o que importa é a retidão, descontração, contato, boas transições e isso realmente aprimorou meus cavalos para que estejam no ponto, tudo precisa estar muito fluente. Às vezes em provas de alto nível, cavaleiros apresentam um super apoio (movimento lateral), mas esquecem da base. Hoje em dia sinto meu cavalo de nível St George correspondendo bem melhor às minhas ajudas."

É realmente difícil de acreditar que Rodolpho disputou sua primeira Paralimpíada apenas quatro meses após deixar o hospital em 2016, terminando em 10º lugar com Warenne. Nesse mesmo ano, Rodolpho foi condecorado com o prêmio da FEI “Against all Odds” (contra todas as adversidades) e dificilmente teve quem não sentiu os olhos marejarem quando ele caminhava no palco do Park Tower Hotel em Tokyo para receber o prêmio em novembro. Dois anos mais tarde, conquistou duas medalhas de prata nos Jogos Equestres Mundiais 2028, em Tryon, montando Don Henrico.

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Rodolpho com Warenne na Rio 2016; img: COB Washington Alves

Rodolpho está com Don Henrico, de propriedade da ex-amazona olímpica Ann Kathrin Linsenhoff titular do Gestüt Schafhof, desde 2017. “O Don Henrico é garanhão e muito sensível, mas logo de cara nos demos muito bem. Alguns cavalos não se adaptam tão bem a um cavaleiro paraequestre. Você pode ter, por exemplo, um cavalo um pouco preguiçoso ou grande demais. No meu caso a dificuldade maior são as ajudas com minhas pernas e as rédeas (adaptadas com um laço), mas o Don Henrico realmente colabora. Ele é demais!”

Don Frederic: mais uma montaria

Depois veio mais um cavalo: um irmão de Don Henrico, o garanhão Don Frederic. “Eu precisava de um segundo cavalo e minha irmã Victoria, que trabalhava para Ann Kathrin, me falou sobre o Don Frederic. Ela disse que tinha uma movimentação melhor e daria muito certo comigo", lembra o cavaleiro. Mas Ann Kathrin não estava pronta para vendê-lo. Então Rodolpho continuou sua busca por um segundo cavalo. Foi quando, após um telefonema com Mathias Alexander Rath, enteado de Ann Kathrin, foi convidado a vir experimentar Don Frederic. A dupla realmente deu certo e graças a amiga brasileira Tania Loeb Wald que comprou Don Fredric, o garanhão veio definitivamente para equipe de Rodolpho em novembro de 2019.

“Demoramos alguns meses para nos adaptarmos e ele corresponder mais às minha ajudas (comandos). O Don Frederic é realmente especial, um pouco menos sensível que o Don Henrico, às vezes um pouco voluntarioso. Agora em 2020 começamos a competir no Adestramento e no Parequestre. Levei ele para Doha (CPEDI3* em Fevereiro de 2020), onde esteve fantástico conquistando três boas notas (três vitórias)."

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100% de aproveitamento para Rodolpho e Don Frederic em Doha 2020; img: Stefano Grasso

Ainda antes em fevereiro, Rodolpho competiu com Don Henrico no CDI1* em Neumünster (ALE), fechando em 4º lugar no Freestyle e 5º no Prêmio St Georges, com vitória da top alemã Helen Langehanenberg. Tanto no Adestramento Paraquestre como Adestramento, o brasileiro é muito competitivo.

O adiamento dos Jogos Olimpicos de Tokyo para 2021 significa que há mais tempo para firmar sua parceira com Don Frederic. “Sou muito privilegiado em ter dois cavalos em condições para ir aos Jogos e agora não queremos ir a Tokyo somente por medalha, mas por uma medalha de ouro ”, afirma Rodolpho, emendando mais uma gargalhada.

Adaptabilidade

Mas ele sabe que não é uma brincadeira: é um homem com força interior colossal e determinação de aço. Eu posso sentir que ele está sorrindo quando ele confirma: sim, eu sempre quero mais, quero vencer e quero melhorar, sempre fui assim! Foi assim que enfrentei tudo que passei, porque foi capaz de me adaptar. Adaptabilidade é a palavra chave e superação dos nossos limites. Todos nós temos mais forças que pensamos ter", insiste Rodolpho.

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Rodolpho na conquista de sua segunda medalha de prata nos Jogos Equestres Mundiais 2018 ; img reprodução FEI 

Fechando o nosso tempo da entrevista, pergunto a ele se tem uma mensagem para as pessoas preocupadas com a instabilidade no mundo devido a pandemia e Rodolpho responde: “não está sendo um período fácil para ninguém porque não sabemos o que o futuro nos reserva. Precisamos superar isso e chegaremos lá, mas não podemos apressar o tempo e precisamos ser pacientes." E finaliza: “se tem algo que aprendi por experiência própria é que se as pessoas se importam umas com as outras, tudo fica mais fácil."

Rodolpho Riskalla….um homem extraordinário …..

 

Fonte: FEI - Louise Parkes; tradução: Hipismo Brasil; fotos: FEI, COB, Hipismo Brasil, GCT e acervo pessoal 

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