Claudiane Pasquali, diretora Paraquestre & Paradestramento da CBH, vem realizando um importante trabalho de fomento à modalidade nos últimos quatro anos no Brasil e está dando sequência no novo ciclo da entidade até Los Angeles 2025/2028. Porém, sua atuação vem de longe: criou a modalidade Paraenduro em 2011 e esteve frente à diretoria Paraquestre da Federação Paranaense de Hipismo por mais de 10 anos. Em entrevista exclusiva, Claudiane revela sua trajetória, principais realizações e metas .
Claudiane Pasquali, diretora Paraequestre, com palavra durante Internacional de Paradestramento na Hípica Paulista em 2023
Como começou o seu envolvimento primeiramente com os cavalos e as modalidades Paraequestres?
Claudiane Pasquali. Sou de família de políticos, com histórico de vida rural. Meu pai sempre teve fazendas com diversos animais, bois, avestruzes, alpacas, bufalos, mas principalmente cavalos: a sua paixão. Desde pequenos, eu e meus irmãos montávamos a lazer, equinos e muares de todas raças. Também chegamos a fazer uma breve passagem pelo Hipismo Clássico, com algumas aulas.
Em 2009, me envolvi com Enduro, por causa de um pedido da Federação Paranaense de Hipismo (FPrH), para empréstimo da nossa fazenda para realização de uma prova. O Paraenduro surgiu em 2011, quando a FPrH pediu novamente para utilizar a fazenda e questionei “o por que” não haver espaço para deficiente neste esporte.
Consegui, então, realizar a 1ª prova de Enduro adaptado, de forma inclusiva, depois de contatar com 13 centros de Equoterapia do Paraná, dos quais cinco participaram e foram essenciais para que eu tivesse a segurança de realizar uma prova com fisioterapeutas, médicos, psicólogos e equipes de apoio habilitados a trabalhar com deficientes e cavalos.
Em sua gestão frente à diretoria na CBH de 2022 a 2024 houve uma significativa adesão de novos praticantes com diversas ações junto ao CPB, organizações paralímpicas estaduais e polos de equoterapia.
Claudiane. Atletas participando de CPEDIs Internacionais, anteriormente, eram muito poucos. Em 2024, tivemos 28. Avaliação física dos atletas no Comitê Paralímpico Brasileiro não era feita. Agora são 34. Nos levantamentos de índices comparativos que fizemos, confirmamos o crescimento dos diversos setores: número de oficiais, número de classificações, número de concursos, etc.
Flash de confraternização no Campeonato Brasileiro de Paradestramento 2023
Quanto à reclassificação funcional, quais ações?
Claudiane. A preocupação principal na inserção e formação de paratleta sempre foi a classificação funcional, que o classifica em 5 graus, conforme sua patologia e funcionalidade. Como as deficiências e funcionalidades são diferentes é preciso que todos concorram no grau exato em que foram classificados.
Convidamos classificadores de mais de oito países diferentes (até do Japão) para estarem nos nossos seis Concursos Internacionais de 2023/24 para que tivéssemos total isenção neste trabalho técnico realizado por fisioterapeutas ou médicos. A primeira ação de classificação/reclassificação, em maio de 2023, realizada no setor médico do CPB-Comitê Paralimpico Brasileiro, contou com 24 atletas. Fomos o país que mais classificou nos últimos anos, entre competidores a nível nacional e internacional foram mais de 50. Formamos sete classificadores em três anos, sendo um Internacional 2*. Nos 16 anos anteriores a esta gestão, só havia uma classificadora em atividade no Brasil.
Confraternização dos atletas no Brasileiro de Paradestramento 2024 em Curitiba
Outro ponto é a evolução de novos atletas / resultados e, pela primeira vez um convite oficial de Doha para atletas radicados no Brasil.
Claudiane. Foi oportunizado a novos atletas e aos antigos, igualdade de condições de participação com uso correto de recurso público via projeto de lei Piva CPB-CBH, oferecendo hospedagem, alimentação e auxílio aos atletas e equipes, bem como transporte de cavalos nos Campeonatos Brasileiros. Hoje temos 14 atletas competindo em Grand Prix 3*, anteriormente a esta gestão eram 6 seis.
A participação em Doha, após mais de 10 anos aguardando convite para grau I, veio em janeiro deste ano, para o atleta Paralimpico Sérgio Oliva, e dois atletas do fomento Cleberson Palhano e Maykon Marques. Sérgio Oliva representou o Brasil e também, como em anos anteriores, Rodolpho Riskalla, em atividade na Europa.
Hoje o juiz e treinador Carlos Lopes, pioneiro da modalidade mundialmente, vem contribuindo ativamente em prol do Paradestramento no Brasil. De modo geral, quais as atribuições dele?
Claudiane. O Carlos Lopes tem contribuído muito formando treinadores, com cursos realizados durante os CPEDI”s, que se encontram na fase VIII. Participando dos concursos, pôde relatar a outros países onde atua, a nova realidade do Paradestramento no Brasil: “foi a modalidade Paraequestre que mais evoluiu no mundo entre 2022/2024”.
Cerimônia de premiação do Grau I com Sérgio Oliva, Cleberson Palhano e Maykon Cardoso com Claudiane, os juizes paralímpicos Arnaldo Conde Filho, Freddy Leyman, Nicoleta Milanese e Carlos Lopes, à direita
Você também vem atuando para impulsionar a modalidade não param inclusive a nível internacional.
Claudiane. Sempre mantive ótimas relações institucionais, seja como filha e irmã de políticos, seja como auditora do Tribunal de Contas, ou ainda como diretora Paraequestre da FPRH, onde realizei diversos campeonatos apenas com a ajuda de amigos.
Tenho ótimo contato com as Federações, Hípicas, ANDE-Brasil e o CPB, bem anterior à minha chegada na CBH. Palestrei nos Carabiñeros do Chile e para oficiais da GNR em Portugal, também antes de atuar na CBH e de forma voluntária. Fui ao Paraguai, a convite da FEDEPA, palestrar sobre os avanços da modalidade Paraequestre no Brasil, onde durante dois dias, visitei sei centros de treinamento e equoterapia, em outubro/24.
Estive presidindo mesa, juntamente com Uruguai, da III Cumbre (alta cúpula) Paraequestre Latino-Americana em Buenos Aires, agora em 27 de março de 2025, e também faço parte do grupo VI da FEI, da América Latina. Espero colher resultados positivos nestas relações, entre estas, o retorno do Paradestramento aos Jogos Parapan-Americanos.
III Cumbre Latinoamericana Paraecuestre, 27/3/25, Buenos Aires | Argentina, Peru , Chile, Colômbia, Uruguai, Brasil. México na plateia e bolívia no zoom
Como está a programação em 2024?
Claudiane. Realizaremos dois concursos internacionais, CPEDI”s este ano, já valendo para índice (MER) para os Jogos Equestres de 2026, na Alemanha. O primeiro Internacional e Nacional agora em março no Clube Hípico de Santo Amaro e o segundo em novembro, no Rio de Janeiro, com o Campeonato Brasileiro.
Eduardo Risson, Claudiane, o cavaleiro paranaense Cleberson Palhano, e do lado do Constantino Scampini, presidente da CBH no ciclo olímpico ate Los Angeles 2028, Paulo Quadros treinador do Clebinho e ao fundo Valdir Araújo, gerente esportivo da CBH
Seguimos com nosso planejamento de proporcionar a novos locais - Rio de Janeiro este ano, Curitiba em 2024 e Anápolis em 2023 - a oportunidade de terem um CPEDI e um Campeonato Brasileiro. Este planejamento tem o objetivo de termos os atletas e cavalos viajando para novos locais, pois nosso país tem tamanho continental. É o que os atletas europeus fazem: viajam e acostumam seus cavalos a novos locais. Realizaremos no mínimo dois Desafios Brasil, que é um projeto de fomento, em locais distintos, para oportunizar a atletas locais a inserção na modalidade.
Claudiane Pasquali, Fernando Sperb, então presidente da CBH, com o anfitrião Nilso Marin, titular da Centro Equestre Cavalo de Raça em Anápolis, sede de um Internacioal, em dezembro de 2023
Eros Spartalis vem dando diversos cursos no Brasil. Quais as principais atividades dele e projetos envolvidos?
Claudiane. O Eros foi meu vice-diretor de Paraequestre na Federação Paranaense, por mais de 10 anos. Há um ano, ele assumiu esta diretoria estadual e há três anos é vice-diretor de Paraequestre CBH. Faz um excelente trabalho, não só me auxiliando na gestão do Paradestramento e Paraenduro, como representando a ANDE-Brasil no sul do país.
Apresentamos juntos projeto científico no Congresso de Equoterapia de Macéio, em maio/24, e hoje temos a aprovação e cadastro deste projeto de pesquisa cientifica nos Anais do Congresso. Acredito que seja o 1º projeto de pesquisa científica CBH.
Eros Spartalis, à esquerda, Claudiane, ao meio, e os classificadores funcionais CBH: Aquino, Viviane, Luana, Mayara e Lucas
A equoterapia, sancionada oficialmente como lei em 2019, já tem longa tradição no país, sendo praticada há mais de quatro décadas. A ANDE, fundada em 1989, é a grande pioneira em Brasília e desde então vem contribuindo com mais de 250 cursos e realização de congressos voltados à atividade. A seu ver, qual a importância da ANDE na popularização da equoterapia?
Claudiane. A ANDE é a instituição que tem registro da marca, o INPI, de “Curso Básico de Equoterapia” no Brasil. Assim como tenho o INPI do Paraenduro, como idealizadora e precursora deste esporte. A ANDE possui alto nível de profissionais que propagam a equoterapia e apoiam o esporte paraequestre. Desde 2013, quando me convidaram para uma 1ª palestra, tenho comparecido palestrando voluntariamente, quase anualmente, sempre que me convidam para seus eventos.
No Brasil são inúmeros os Centros de Equoterapia. Quais as ações para incentivar Paradestramento e outras modalidades Paraequestres em locais onde ainda não são praticados?
Claudiane. Desde meu início na modalidade Paraequestre em 2011, meu foco foram os Centros de Equoterapia, com a certeza de podermos transformar praticantes em atletas, visando a inclusão inicialmente e depois o rendimento. São mais de 400 Centros de Equoterapia pelo Brasil e tive oportunidade de conhecer diversos, inclusive nas cavalarias do Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Distrito Federal. Na cavalaria do Paraná, temos o único paratleta com bolsa-atleta de cavalaria do Brasil.
As ações para incentivo já vem acontecendo com o Paradestramento, a exemplo do trabalho que eu já realizava com o Paraenduro: indo aos Centros de Equoterapia presencialmente, conversando e reunindo com potenciais treinadores e famílias, informando os passos para começar no Paraequestre. Realizo palestras gratuitas sobre o Paradestramento e Paraenduro, de modo a conseguir alcançar um maior número de adeptos.
Claudiane, com Barbara Laffranchi, vice-presidente da CBH no ciclo 2022/2024, Tatiana Gutierrez, secretaria geral da CBH, e à esquerda, Sergio Fiori, juiz de adestramento, em evento na SHP
Para quem ainda não conhece como basicamente funcionam os processos para bolsas de atleta junto ao governo federal e órgãos estaduais?
Claudiane. O atleta participante de Concursos Nacionais, Internacionais e Campeonato Brasileiro, soma pontos compondo um ranking, que a CBH envia ao final do ano para o Ministério do Esporte, que contempla a bolsa-atleta federal. A nível estadual, as Federações fazem este acompanhamento e encaminhamento à Secretaria de Esporte do Estado. Hoje temos 14 atletas CBH beneficiados pelo bolsa-atleta.
O paranaense Cleberson Palhano está entre os recentes e bem-sucedidos atletas do Paradestramento
Quais as principais metas nesse novo ciclo da CBH até 2028?
Claudiane. As metas principais no esporte de alto rendimento é conseguir ranquear nossos paratletas para os eventos mundiais de maior importância: Paralimpíadas e Jogos Equestres Mundiais. Além das competições de alto nível, não deixamos de priorizar o fomento, trazendo novos atletas e profissionais, através de Cursos para Treinador, Steward, Classificador Funcional, Juiz Nacional e Internacional. Termos realizado seis Internacionais em dois anos, ofereceu a oportunidade a novos e antigos atletas a conhecerem provas FEI, com oficiais de diversos países, sem precisar sair do seu país.
Continuaremos com a meta principal visando participação nos Jogos Equestres Mundiais de Aachen 2026 e Paralimpíadas Los Angeles 2028, com preparação de atleta e cavalo, mantendo atenção também ao fomento, essencial ao crescimento do paradesporto.
Confraternização no Internacional de Paradestramento em março de 2025 no Clube Hípico de Santo Amaro
Fique à vontade para complementar com outros pontos.
Claudiane. Temos focado na formação do paratleta completo, oferecendo avaliações físicas e de saúde juntamente com o Comitê Paralímpico Brasileiro. Em época de Jogos, serviço psicológico e fisioterápico para a seleção. Teremos de forma efetiva uma equipe multidisciplinar com psicólogo, médico, nutricionista e preparador físico. Estes dados de saúde, física e psicológica, constarão do PCD-Painel de Controle de Desempenho, juntamente com as pontuações de provas do conjunto atleta-cavalo, e informações comportamentais como fairplay, respeito as instituições, cumprimento dos regulamentos e código de conduta CBH e FEI.
Queremos que nossos paratletas possam compartilhar sua vida esportiva de sucesso, nas redes sociais e palestras, demonstrando que são exemplares dentro e fora das pistas!
Entrevista atualizada em 1/4/2025
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